28 junho 2006

Sobre nós, Africanos

Sr. Joseph Poisson

Sabe, entendo por concepção africana da vida um conjunto de princípios, de crenças e de práticas que nos orientam secularmente na vida, uma certa e específica maneira de encarar a vida, muito nossa.
Por exemplo, nós nunca concebemos a morte enquanto tal, para nós os nossos mortos continuam vivos sob forma de espíritos, que louvamos continuada e carinhosamente.
Como sabe, as mentalidades variam: a nossa não é a vossa e a vossa não é a asiática.
Sobre o direito, agora.
Como bem sabe, em África devemos saber distinguir entre o direito costumeiro estrito (conjunto de regras de conduta obrigatória) e o costume (conjunto de princípios gerais cuja infracção não é sancionada).
Muitas vezes ambas as coisas aparecem imbricadas uma na outra. E isso muitas vezes devido ao efeito deletério do colonialismo e da actual e permanente intrusão europeia.
De qualquer das formas, é importante ter em conta que o direito costumeiro negro tem, por um lado, uma componente universal idêntica ao direito branco (a mesma busca de regras, de preceitos, de sanções, etc.) e, por outro, naturalmente, uma especificidade, atinente à nossa maneira peculiar de estarmos na vida, de a encararmos.
Somos ainda muito sociáveis, a nossa vida é pautada pela busca permanente de diálogo, de equilíbrio, de harmonia, de entrosamento familiar e de grupo. Não é por acaso que a resolução costumeira de conflitos leva horas e horas, sem formalismo, com as partes intervenientes discutindo o problema ou os problemas em causa até se chegar a uma conclusão satisfatória. Nós não temos a vossa pressa de europeus nem resolvemos os nossos problemas da forma disjuntiva como vós resolveis ou tentais resolver os vossos. Por isso o direito formal, de vós herdado, provoca tantos problemas entre nós!
Por agora fico por aqui.
Os meus respeitosos cumprimentos.

Félix Gorane

La matapa

Mon cher Geraldo

Ah oui, la matapa saiu même bem, um gosto merveilleux, voilà. Seulement le piripiri era fraco, aqui apenas encontrei algo parecido com isso no mercadinho de um libanês. Je me souviens bem du piripiri que me mandaste o ano passé.
Bien à toi.

Joseph Poisson

22 junho 2006

Receita de matapa

Receita de matapa

Ingredientes: amendoim, sal, rama de abóbora, cebola, piri-piri, azeite e limão

Confecção:

Põe-se água ao lume com sal e deixa-se ferver. Junta-se rama de abóbora cortada como para caldo verde e deixa-se ferver um pouco. Junta-se então amendoim passado pela máquina, cebola picada, piri-piri e deixa-se ferver lentamente até a água se evaporar e a matapa ficar num creme grosso. Pode-se acompanhar isto com carne assada, mas, querendo, também se pode pôr camarão, na altura de pôr o amendoim. Leva cerca de 1 hora a fazer.

Bom apetite, Amigo Poisson!

Geraldo dos Santos

Matapa

Caro Amigo Joseph Poisson

Vou tentar ainda hoje mandar-lhe a receita da nossa deliciosa matapa.
Respeitosos cumprimentos.

Geraldo dos Santos

À vous, Mr. Gorane

Sacrebleu! Estas coisas des femmes et des hommes começam a m´emmerder.
Merde!
Não é possível parar um pouco esse tipo de choses?
Alors, Mr. Gorane, diga-me lá uma chose: o que é “concepção africana” da vida e o que é “direito costumeiro negro”? Essas perguntas foram-lhe feitas num comentário e o sr. ainda não respondeu!
J´attends donc!
Fidèlement à vous.

Joseph Poisson

P.S. Mr. Geraldo dos Santos, pode mandar-me a receita da matapa? Un très grand merci!

Estou infelizmente de acordo

Sr. Carlos Serra

Sou infelizmente obrigada a concordar consigo. Sim, é indiscutível que nós, mulheres, também concorremos para a tal dominação.
Mas isso não invalida a necessidade de prosseguimos a luta pela igualdade do género.
Essa é uma luta que vos liberta a vós homens, fundamentalmente a vós.
Um abraço do tamanho do Zambeze.

Sónia Ribeiro

18 junho 2006

Beber e assimilar a dominação

Permita-me, Sónia, plantar aqui uma pequena coisa a propósito de um debate que prevejo crescente e, em especial, tendo em conta a mutilação genital por mim mencionada hoje no meu blog.
A Sónia e certamente outras e, até, outros, serão levados a pensar, o que é bem normal, que semelhante fenómeno paga uma factura pesada à dominação masculina milenar.
Todavia, a mutilação, em tudo o que possa ter de justificação cultural, é um fenómeno partilhado por homens e mulheres.
As mulheres, vítimas do processo, acabam, afinal, por aceitar a naturalidade de algo que as fere irremediavelmente. Por quê? Porque desde sempre foram ensinadas, numa cadeia sem fim de compulsão simbólica e repressiva, a aceitar serem dominadas, tornando hábito corporal o que corporalmente as amputava e amputa. Por isso elas-próprias dominam e contribuem para a reprodução socialmente naturalizada da sua própria desumanização.
Afinal, Sónia, em cada mulher está um homem….
A luta exige muitas frentes de combate. Lutemos.

A luta continua!

Carlos Serra

Os teus pressupostos, Gorane!

Gorane: admiro, devo ser franca, o teu grande esforço para não te atemorizares com as mulheres “fortes” (que, de forma infeliz plasmaste nas lutadoras de luta-livre e nas alterofilistas, credo, coitado de ti!), com aquelas mulheres que um dia dizem chega, que dizem chega a pressuspostos como os teus e de tantos outros homens, da maioria de vós, afinal.
Dizes que nos masculinizamos quando lutamos pelos nossos direitos, pela nossa humanidade, perante vocês que apenas nos conhecem numa cama e nos filhos que vocês colocam nos nossos úteros no vosso incansável amantismo?
Nós não nos masculizamos, nome pelo qual te proteges contra os teus medos. Nós apenas nos humanizamos e assim fazendo, meu amigo, contribuímos para vos re-humanizar, sabes?
Deixa-nos ser, deixa-nos lutar, deixa-nos tornar melhor esta humanidade, livre das guerras e do sofrimento indizível que tendes causado século após século.
Quisesteis que sempre estivessemos na posição horizontal. Assusta-te agora que amemos estar na posição vertical! Pobre e frágil Gorane, como és patético!
E, já agora, deixa os teus processos judiciais e espreita o diário do Carlos Serra, vê lá o que está hoje escrito sobre a mutilização genital, essa maneira que vocês homens encontraram para nos humilhar e nos tirarem abjectamente o prazer que apenas vós quereis ter.
Mulheres de todo o mundo: unamo-nos! A paz está nas nossas mãos!

Cuida-te!
A todos, um abraço zambeziano!

Sónia Ribeiro

17 junho 2006

Alguns subsídios para uma visão histórica aberta

Amigos Félix Gorane e Gabriel Muthisse

Muito obrigado pela vossa participação generosa.
Fico com a ideia de que ambos defendeis uma espécie de africanidade pura, incapaz de ter reacções outras que não sejam aquelas impostas ou motivadas pelos estrangeiros.
Se problemas existem, eles não nos podem ser imputados, as causas sempre residem nos estrangeiros: tráfico, ocupação, situação actual, etc.
Mas creio que nós temos de ter uma outra visão da história, uma visão aberta, corajosa, equilibrada, que seja capaz de nos fazer ver e interpretar as coisas serenamente, mesmo que o resultado dessa forma aberta de ver nos magoe e nos faça sofrer.
Tomemos o exemplo da ocupação colonial no nosso país, onde, no fim do século XIX, não havia mais do que 200 portugueses cá.
Quem faz a ocupação militar em Moçambique durante cerca de 30, 40 anos?
São fundamentalmente alguns milhares de sipaios e de soldados regulares (muitos deles de origem angolana), todos Africanos, comandados por algumas centenas de oficiais e de sargentos portugueses e, no que concerne ao vale do Zambeze, por senhores dos chamados Prazos. Este fenómeno foi tão intensamente africano, que um historiador como René Pélissier escreveu que Moçambique se auto-conquistou.
Poderá a ocupação militar ser explicável pela superioridade militar dos Europeus? Apenas em parte, quanto a mim. Fundamentalmente a «auto-conquista» assentou em três razões básicas: na fragmentação linhageira, na lealdade de milhares de sipaios e no apoio prestado pelas populações quando em protesto contra a rapacidade das aristocracias reinantes. Isso foi, quanto a mim, muito mais decisivo do que o peso dos canhões Gruzon de tiro rápido, dos canhões-revólveres Hotchkiss, das metralhadoras Nordenfedh, das espingardas automáticas Kropatscheck, etc., das tropas comandadas pelos Portugueses.
Em 1888, por exemplo, um explorador francês notava que na Zambézia pequenas revoltas campesinas eclodidas nos Prazos eram facilmente esmagadas por alguns soldados com o auxílio das populações de outras áreas.
Em 1909, o governador da Zambézia, Couto Lupi, observava que havia muitos exemplos da prontidão com que, vou citá-lo, «um revoltado de ontem, engajado hoje como sipaio, não hesita amanhã a atirar [sobre] e a matar os seus compatriotas.» Daí que, acrescentou, bastasse trazer sipaios de áreas distantes de 50 a 60 quilómetros para abafar revoltas locais.
Panos de algodão, despojos de guerra (mulheres, gado, terras), bebidas alcoólicas e cargos de chefes, permitiram a disponibilidade e a lealdade de milhares de Africanos «mercenarizados».
Os sipaios constituem, na realidade, uma peça fundamental não apenas na ocupação militar de Moçambique, mas, também, na reprodução de toda a ordem colonial até 1974. Há, por exemplo, indicações de que muitos sipaios «enriqueceram» com a ocupação.
Mas, por outro lado, não foi, em certos casos, menos decisivo o apoio de muitas populações quando em jogo estava a memória e o ressentimento das predações levadas a cabo pelas aristocracias locais, tal como aconteceu, para só citar dois exemplos, com o Estado de Gaza e com o principado cazembe da Maganja.
A ocupação militar foi acompanhada de uma reorganização das aristocracias reinantes. Mas esse processo teve três aspectos diferentes.
Assim, uma parte significativa delas foi substituída ora por soldados desmobilizados, sipaios e, até, moleques dos oficiais portugueses, ora por aristocratas aliados.
Mas, por outro lado e muito curiosamente, alguns dos mais decididos opositores à ocupação foram mantidos. Há evidências de que eles se tornaram, depois, fiéis aliados.
Finalmente e este é um ponto para mim crucial, em várias partes de Moçambique muitas casas reinantes decidiram optar pela clandestinidade, por um lado dispersando profundamente os centros de comando para evitar a penetração da malha administrativa colonial e por outro e sobretudo, criando «chefes de palha» (cativos, muitas vezes), apresentados aos oficiais portugueses como os verdadeiros chefes locais, através dos quais e à retaguarda dos quais procuravam manter as antigas relações de poder. Este fenómeno foi acompanhado em muitas áreas do País por uma profunda dispersão táctica das populações, tentando escapar ao trabalhado compelido, aos impostos e às conscrições militares.
E assim termino por hoje, meus Amigos.

Os meus mais sinceros cumprimentos.

Geraldo dos Santos

P.S.: Meu Amigo Gorane: na minha modesta maneira de ver as coisas na história, não existem fontes orais mais cheias de verdade do que as fontes escritas coloniais. Fontes escritas e fontes orais sofrem sempre o efeito da reelaboração consoante os períodos, os interesses, etc., o que requer um severo trabalho de aprofundamento e de comparação. O que os nossos velhos nos dizem hoje sobre o passado, não pode, naturalmente, ser exactamente o que se passou, por exemplo, no século XV. A idealização é uma boa coisa, mas nada de positivo traz para o conhecimento histórico.

As mulheres-homens

Querida Sónia

Tenho andado ocupado com três clientes cujos casos me obrigam a estar com frequência no tribunal e na procuradoria da república e por isso tenho tido dificuldade em acompanhar as intervenções aqui feitas. Verifiquei, lendo um pouco apressadamente, que aumentam os comentários. Irei arranjar algum tempo para ler mais atentantamente tudo isso.
De qualquer das formas, porém, eu regresso ao tema do género (termo da moda), após a tua vigorosa defesa das mulheres na cena pública.
Quando analiso o que escreveste, quando analiso o que defendem as feministas frenéticas da terra, quando tenho tempo e passo os olhos por algo que por esse mundo fora se escreve do "ponto de vista" feminimo, fico literalmente pesaroso e apovorado.
O que está a acontecer há várias décadas, é uma autêntica masculinização das mulheres, para usar um daqueles termos espalhafatosos que o Poisson e o Serra adoram exibir.
De facto, cada vez mais vemos as nossas mulheres fora dos lares, tentando imitar os homens (as jeans, por exemplo), vemos as mulheres já incapazes de ser femininas, amorosas, tentando, inclusivamente, ser homens do ponto de vista sexual.
Mais: por causa do femiminismo, aumenta o desemprego a nível mundial. Mulheres são mais baratas, os homens são postos na rua, desempregados, os lares ficam com dificuldades crescentes.
Quando pegamos nos casos litigiosos no nosso país, verificamos o aumento galopante de casos de sérias desavenças nos lares, com os filhos ao deus-dará, os maridos sem mulheres, as mulheres com amantes, etc. Uma parte da pequena e média criminalidade nos lares tem a ver com a erosão crescente das relações conjugais. E isto é uma gota no oceano aqui, no país. Pensa agora no que se passa na Europa e nos Estados Unidos!
E se reparares bem, verás que as feministas são regra geral mulheres insatisfeitas, feias, histéricas, carentes sem remédio, descarregando no feminismo o amor compensatório que os homens não lhes dão nem podem dar. Como amar guerrilheiras sem feminilidade, incapazes de serem reais mulheres? Claro, tu és uma mulher bonita, mas és uma excepção.
Repito: o papel das mulheres é nos lares, lá onde a sua natureza deve cuidar das crianças, amparar os maridos que labutam no exterior.
Já agora, Sónia: algum dia viste na televisão da Suazilândia as mulheres a combater na luta-livre como os homens, com músculos enormes, bicípites descomunais? Como é possível um homem amar uma mulher-homem que parece um gorila? E já viste lá as mulheres halterofilistas? Que bofetada enorme na beleza e na delicadeza das mulheres, meu Deus!
Tenho dito.
Um beijo.

Félix Gorane

16 junho 2006

Frederico

Sr. Poisson

Frederico é meu filho, tem oito anitos.
Agradeço-lhe o interesse.
Cumprimentos.

Sónia Ribeiro

Para o Sr. Gabriel Muthisse

Estimado Sr. Muthisse

Muito obrigado por todo o esforço que tem feito para nos ajudar a compreender melhor a vida humana aqui na nossa terra e em África em geral.
E perdoe todo este este atraso na resposta, coisas da vida, que quer.
Dê-me o prazer de lhe propor uma coisa não no sector dos comentários, mas aqui, no painel central.
Sobre, concretamente, o tráfico e já que estamos a usar a net, permita-me sugerir-lhe que faça uma busca no Google usando, por exemplo, as seguintes frases:

Traffic on human beings in Africa
Child traffic in Africa


Os meus melhores cumprimentos e apareça sempre, esta casa é sua.

Geraldo dos Santos

Soyez le bienvenu!

Chère Amie Sónia Ribeiro

Me voici à nouveau. Ah! cette net délicieuse!!
Salut, madame! Mes excuses, de facto tenho andado occupé (j´ai du monde sur le dos) e fui vraiment indelicado ao não ter perguntado por si.
Hélas! entristece-me sabê-la doente e ao Frederico.
Mais... qui est Frederico? Seu marido? Faites mes amitiés à lui.
Bien fidèlement vôtre.

Joseph Poisson

Felicitações, Sra. Sónia Ribeiro!

Parece que estamos todos de novo a regressar…Acabo de entrar na net também.
Sra. Sónia, as minhas sinceras desculpas por não ter sabido de si com antecedência, mas parece que cada um de nós teve um problema. No que me toca, tive de ir a Nampula resolver um problema de um familiar, tenho lá um irmão sempre com problemas sociais.
Espero que tudo se recomponha em sua casa no tocante a doenças.
Os meus cumnprimentos.

Geraldo dos Santos

Bem-vinda!

Acabo de me conectar à net e vejo aqui o teu regresso, Sónia. Fico feliz por regressares. Espero que o Fred esteja melhor, coitado dele.
Beijo.

Félix Gorane

P. S. - Olha, dá ao Fred uma mistura de alho (um dente, dos grandes) e um pouco de gengibre, pila antes tudo, acrescenta um pouco de líquido e duas colheres pequenas de açúcar , é remédio santo. O alho é um antibiótico natural, como sabes. Mas é também uma aspirina natural.

As minhas desculpas

Meus amigos, peço muitas desculpas por ter estado tanto tempo ausente, estou desolada. Mas acontece que andei doente com uma louca colite, depois sobreveio uma gripe, enfim. E como se isso não bastasse, o Frederico adoeceu, coitadinho. Peço especiais desculpas às minhas queridas amigas que deixaram comentários, creiam que tudo farei para não mais vos deixar.
Aos meus amigos em geral, desejo que saibam que voltarei a escrever. Mas não entendo por que o Sr. Poisson, o Sr. Geraldo e o Félix não têm escrito.
Que Deus vos proteja a todos.

Sónia Ribeiro

06 junho 2006

Vós outros, mandarins da indignação nefelibata!

Vocês, Sónia e Gorane, sois vraiment possuídos pela vossa amnésia histórica, sabeis?
Sacrebleu! Quando usais termos como “homens” e “mulheres” mais nada fazeis salvo rectificar o naïf naturalizado por uma dominação hoje sem pais e na qual os “vossos” homens e as “vossas” mulheres se limitam a aceitar os papéis, uns de dominação, outras de subordinação!
Quando os vossos homens-machos exibem a virilidade e as vossas mulheres-fêmeas mostram o seu mais sedutor sorriso, qual deles é o dominador, merde? Não são ambos, afinal, herdeiros do que o nosso Bourdieu chamava disposições incorporadas, de uma construção social naturalizada?

Bien fidèlement à vous.

Joseph Poisson

Nós, mulheres, as invisíveis

Gorane, olha, não és apenas tu a pretender que nós, as mulheres, devemos continuar a gerir o mundo do invisível, o mundo do lar à vossa maneira.
Quase como um selo da natureza, vós outros, homens, têm e terão esse permanente desejo: ver-nos dentro de casa, enquanto vocês passam o dia fora dela.
Por que razão existe em Maputo, por exemplo, uma sexta-feira dos homens, um dia no qual vocês passam a vida nas barracas e com as amantes?
Por que razão nós, mulheres, não podemos gerir, também, como vós, o exterior?
Olha, Gorane, não é porque estamos fora de casa que o afecto some ou as crianças sofrem: é porque entre homem e mulher deixa de haver afecto, é porque vocês estão cada vez mais fora, nas barracas, com as vossas outras mulheres, formais e informais, é porque vocês não nos ajudam, entendes?
Quereis a comida pronta, a cama feita, a casa limpa, todos os dias, sem falhas. E vocês o que fazem, salvo passear nos vossos four-by-four, dançar nas boîtes e dormir com as mulheres que entendeis?
Custa-vos tanto assim estar com as crianças? Custa-vos fazer a cama, preparar as refeições, limpar a casa?
Ou pensais que apenas vos compete encher-nos com espermatozóides e filhos?
Vocês, homens, nos fizeram um dia segundo o vosso escopro e martelo. Chegou altura de nós vos inventarmos não como fizésteis connosco, mas de acordo com regras equânimes de igualdade, reciprocidade, afecto, respeito e dignidade.
Um abraço do tamanho do Zambeze para todos vós!

Sónia Ribeiro

Fontes coloniais portuguesas

O Senhor baseia-se certamente nas fontes coloniais portuguesas para afirmar, categoricamente, que nós próprios nos escravizámos. Por acaso ouviu os nossos velhos, aqueles que, por séculos e séculos, têm guardado a memória do sofrimento do nosso Povo?
Melhores cumprimentos.

Félix Gorane

05 junho 2006

Sobre a escravatura em Moçambique

Recuemos no tempo em Moçambique, permitam-me que vos recorde algumas coisas simples. Creio que foi o Gorane quem falou no comércio de escravos.
A partir de 1505-7, as fontes escritas portuguesas começam a transmitir-nos, ainda que de forma bastante superficial e costeira, pequenos frescos das redes relacionais de interesse e poder.
O que nos mostram essas fontes? Por um lado, que existem pequenos chefes, pequenos árbitros, digamos que moderadores de conflitos. Mas, por outro lado, que existem grandes chefes, aristocratas envolvidos no grande comércio caravaneiro com ouro e marfim, que adquirem armas para assegurarem a protecção das suas esferas de influência, tecendo alianças ora com Árabes ora com Portugueses, metidos em duras lutas pelo monopólio de rotas e de produtos vindos do exterior: é o caso dos soberanos do Mwenemutapwa.
Os anos passam, o comércio de escravos era cada vez mais amplo.
Ouro, marfim e escravos: eis a sagrada família que faz movimentar aventureiros de todas as latitudes. A partir do século XVII há como que uma maior aceleração dos ritmos de contacto, das permutas linguísticas, das hibridações religiosas, mas, também, das provas de força. Se o pano, o bretangil indiano vestem e embelezam, a espingarda faz aprisionar e mata. Aos espelhos, à missanga, às capulanas de então, etc., juntam-se, cada vez, as armas de fogo.
A caça ao homem torna-se uma regra em muitas partes deste actual Moçambique. Barcos negreiros ancoram do Ibo a Sofala, chegam mesmo a Lourenço Marques e partem carregados de escravos.
Quem agencia a caça? Na maior parte dos casos, são as aristocracias e os notáveis locais. São os chefes tradicionais, para usar a expressão hoje consagrada pelo uso, quem detém os cordelinhos últimos dos caminhos do sertão. Vêm as armas de fora? Sem dúvida. São os negreiros exteriores? Sem dúvida. Mas são normalmente locais e aristocráticas as mãos que ordenam e executam do século XVI ao século XIX e, mesmo, nas duas primeiras décadas do século XX. Na verdade, as elites rurais locais possuem redes clientelistas e exércitos especializados nas operações de caça. A sua força não assenta apenas na solidez e na extensão dos acordos inter-linhageiros, mas também e cada vez mais, na quantidade de e no raio de acção das armas de fogo possuídas.
É também por aí e, diga-se em abono da verdade, fundamentalmente por aí, que se pode compreender por que essas elites apresentaram uma tão grande resistência à ocupação militar portuguesa (o caso do vale do Zambeze, por exemplo, é, a esse respeito, emblemático). Na realidade, a ocupação punha em causa os pilares da reprodução escravocrata dessas elites.

Um abraço para todos!

Geraldo

04 junho 2006

Finalmente a minha caricatura!


Aqui tendes, finalmente, a minha caricatura. Não está muito do meu gosto, mas enfim, aqui fica.

Sónia Ribeiro

Mr. Gorane

Mon cher Gorane

Sacrebleu! Para quê, ó dr. Gorane, essa presunção maniaque de querer provar-me que sabe Hegel pela mielina dum Carvey, dum Padmore, dum Césaire, dum Senghor?
Breve volto ao seu contacto.
Amitiés.
Joseph Poisson

Para o Sr. Poisson

Sr. Joseph Poisson

Se o Sr. tivesse lido melhor o seu Hegel teria percebido melhor que na dialéctica dos contrários é possível e desejável compreender-nos, a nós, os Africanos.
Por que razão deseja tanto neo-colonizar-nos?
De onde lhe vem esse apetite? De Obélix?
Cumprimentos.

Félix Gorane

Pergunta

Usais, alguns de vós, de forma naturalmente generosa e humana, expressões do género “os homens”, “as mulheres”, “os europeus”, “os africanos’, etc.
Que evidências estatisticamente comprovadas, digamos as coisas assim de forma rude, possuís para utilizar com tanta sem-parcimónia expressões tão sem fronteiras quanto essas?
Ou mais não fazeis do que enxertar nos vastos outros, que mal conheceis, os vossos não menos vastos egos?
Abraço-vos.

Carlos Serra

Para a Sónia

Sónia

Tenho uma concepção muito africana sobre o papel das mulheres.
Defendo que quando as mulheres começam a sair de casa, imediatamente duas coisas ficam afectadas: a estabilidade emocional das crianças e a estabilidade matrimonial.
Existe uma espécie de lei de natureza, que a maternidade veicula: a gestão imperiosa do lar, sem o que tudo se desmorona. Dar à luz é bem mais do que pôr no mundo uma criança: é, fundamentalmente, fundar a vida, a estabilidade, o equilíbrio.
Mesmo nos casamentos poligâmicos a regra existe, salvo quando os costumes se tornaram dissolutos devido à influência deletéria europeia.
O direito costumeiro negro é profundamente ontológico: não é o ter que importa, mas o ser, o estar psicologicamente bem e em harmonia, em família permanente.
Repara, Sónia, na quantidade de traumas que existem na Europa devido à prolongada ausência das mulheres dos seus lares. Já pensaste nisso? E já pensaste no que está a acontecer nos nossos lares aqui quando as mulheres passam muitas horas fora de casa a vender nos mercados ou a pedir esmola ou, nos casos dos lares mais ricos, naquelas que passam a vida nos escritórios ou na vida política? Que educação se pode garantir assim?
Os homens devem zelar pelo exterior, as mulheres pelo interior. Os homens devem assegurar o sustento do lar, as mulheres devem assegurar a saúde afectiva do lar.
Deixemos de sonhar com as Amazonas guerreiras do Daomé! A cada sexo o seu lugar!
Era isto o que eu queria dizer.
Um beijo.

Félix

O que o Sr.Poisson esquece

Sr. Joseph Poisson

Não nego os escândalos que reinam na minha terra e em outros países africanos. Mas o Sr. também não pode negar a multiplicidade de escândalos, políticos e de muitas outras naturezas, que reinam no seu continente, mesmo aí na sua gaulesa terra.
Se me autoriza dizer a coisa de uma certa maneira: a roubalheira não tem pátria, não tem raça, é como uma natureza irredutível.
O problema, Sr. Poisson, consiste para vocês, europeus, em procurar sempre em nós compensações para uma arte na qual sois mestres: a da aleivosia do esquecimento deliberado.
E, já agora, também a da aleivosia de teorias supostamente científicas.
Lembro-me, por exemplo, de um livro do Patrick Chabal e do Jean-Pascal Daloz que criaram a fantástica teoria de que os Africanos criavam a desordem política como instrumento político deliberado para se manterem no poder e para tirarem réditos disso. Francamente!
Pense, Sr. Poisson, em tudo o que vocês fizeram ao nosso continente com o tráfico de escravos, nos milhões de seres que nos levaram, no desajuste social que nos causaram. Pensa nisso, Sr. Poisson?
Quanto aos chefes tradicionais, sim, eles continuam a ser um pilar fundamental para a nossa terra, são eles os guardiões dos valores mais queridos dos povos, são eles quem melhor conhece a sua história, o seu querer. Daí o fracasso dos “Grupos Dinamizadores” criados logo após a independência nacional, esses grupos políticos completamente estranhos às nossas tradições de gestão política e de resolução local de problemas.
Defendo que o futuro dos nossos países africanos passa necessariamente pela reactivação plena dos chefes tradicionais e pelo papel histórico dos nossos médicos tradicionais. Apenas eles compreendem os povos, apenas pelos povos são compreendidos. Tudo o que vier de fora é estranho, é uma autêntica metástase política.
Os meus cumprimentos.

Félix Gorane

Madame Ribeiro

Chère Madame

Sacrebleu, madame! Lepenista eu ? N’y pensez pas! Sou absolutamente contra qualquer busca de raízes, essas racines que o monsieur Bonald do Chiveve, o Gorane, procura a todo o transe. Lá onde existe a bulimia das raízes, Madame, existe um canhão e um polícia da liberdade.
Simplesmente, Madame, il faut dizer as coisas com frontalidade e não nos escondermos numa rodoma de vítimas tragiques de processos históricos nos quais, queiramos ou não, também fomos sujeitos activos.
Vous savez, Madame, hoje ainda temos, os terceiro-mundistas, cette chose bizarre de atribuir aos nortistas a responsabilidade de situações das quais ou nas quais somos muitas vezes os principais responsáveis. A cleptocracia reina partout dans cette Afrique que Monsieur Gorane pinta com as cores do Jean-Jacques Rousseau. Merde, os povos morrem de fome e hoje ainda atribuímos ao colonialismo e aos europeus a responsabilidade no preciso momento em que todos os dias pedimos os extractos das nossas contas na Suíça.
E, já agora, à propos do oportunismo, deixe-me recordar um tal Sr. Jorge Viegas que em 1991 (voir jornal Domingo de 20 janvier) a dit que a preguiça dos Moçambicanos tinha origem colonial, pois foram tão roubados que se tornaram preguiçosos. Tout court, mon Dieu! Ah, ces messieurs-là!
Quanto au sujet das mulheres e ainda que eu não tenha sido interpelado nesse campo, devo dizer, com toda a franchise, que sou completamente aberto à igualdade de oportunidades dos sexos, a todos os níveis, ainda que eu seja homossexual.
Amitiés.

Joseph Poisson

03 junho 2006

Para Gorane e Poisson

Oi a todos.
Ouve, Gorane: tens mesmo a certeza da democracia desses teus régulos dos tempos idos? Ou falas da democracia dos velhos contra jovens e mulheres?
E no que lhe concerne, Sr. Poisson, você é do lado do Le Pen?
Um abraço do tamanho do Zambeze.

Sónia Ribeiro

Muito obrigado!

Muito obrigado pelo excelente almoço, estava admirável a galinha, mas o piripiri deixou-me com uma diarreia aborrecida.
Estou muito feliz pois as galinhas que me ofereceu chegaram bem.
Um grande abraço.
Sempre ao seu dispôr.

Félix Gorane

Para Poisson, o girondino

Olá jovem girondino. Tudo bem do meu lado, obrigado.
Olha lá, tu que me chamaste Durkheim, sempre te esqueces de que sou um sensato zigoto que sabe absorver os gâmetas chatos, as leis de uns, os egos de outros.
Cuida-te, aqui virei sempre que tiver tempo e as minhas vísceras suportarem os vossos doces diálogos.
Carlos Serra

Frango à zambeziana e mukapatha

Eu enganei-me ao escrever “mucapata” (escrevi “mucapara”) e por isso peço desculpas. O Jonas também, no comentário...
Para cobrir o erro, aqui vão as receitas do frango à zambeziana e da mukapatha (para ser vernáculo):

"FRANGO À ZAMBEZIANA
Ingredientes: Um (1) frango, dois (2) cocos, meio (1/2) bolbo de alho, sal suficiente, um (1) limão.
Modo de preparar: Pila-se o alho com poucos cristais de sal,rala-se os côcos, que devem ser bem secos. Abre-se o frango na parte de entre as patas, mas mantêm-se as miudezas (moela e o fígado), pica-se ligeiramente o frango por toda a parte, que é para estar bem temperado, adiciona-se à galinha o alho pilado, algumas gotas de limão (apenas de uma parte), um pouco de sal (se necessário) e o leite do côco que deverá ser extraído sem adicionar se água ao coco. Faz- se mais leite com o mesmo côco, mas apenas com muito pouca água (nem à metade de um copo) e deixa-se a parte. Acende-se o lume, porque geralmente o frango é assado em fogões a carvão em brasa. Depois que o carvão estiver totalmente aceso, retira-se um pouco do carvão que é para não queimar o frango. Finalmente coloca-se na assadeira o frango e leva-se ao lume. Na medida em que o frango vai cozendo unta-se todo com o leite já reservado ( para untar usa-se uma colher de mesa ou então mesmo penas de frango “se existirem”). Deixe o tempo que for preciso para cozer e torrar ligeiramente todo o frango.
N.B: O leite de coco deve ser muito grosso, para isso é necessário adicionar-se apenas algumas gotas de água em vez de uma quantidade considerável.
topo
MUKAPATHA
Mukapatha é um prato zambeziano característico. Normalmente prepara-se em ocasiões especiais e em ambientes familiar. Acompanha se com algo assado ou frito: peixe, frango, carne.
NB: prático é obter o feijão sem casca.
Ingredientes: 4 copos de Arroz, 4 copos de feijão soroco (soloco),6 cocos, salça ou 1 cebola em folhas, sal de cozinha que baste.
Modo de preparar: Se o feijão tiver casca, pega se no feijão e torra-se, depois leva-se ao pilão, com a ajuda do pau do pilão pila-se ligeiramente rapido antes que arrefeça, para sair a casca, separa-se o feijão das cascas peneirando e escolheem-se as impurezas: pedrinhas ou outras. De seguida ralam-se os cocos, faz-se o leite adicionando 6 copos de água. Coloca se a cebola ou salça picada e o sal juntamente com o leite numa panela, minimamente grande e leva-se ao fogão/ lume ligado ou aceso, mexe-se até ferver. Logo que ferver põe-se o feijão e o arroz depois de bem lavados em recipientes diferentes, a seguir mexe-e muito bem com uma colher de cozinha, para que o arroz e o feijão cozam misturados. Depois de muito cozido deixa-se arrefecer. Quando arrefecido, mexe-se novamente com a colher de cozinha (de pau), até que se faça uma massa.
Para se servir tira-se a massa da mukapatha em conchas de sopa ou outro material que possa tirar a massa num formato interessante: em bolas redondas, ovais, elípticas ou mesmo com formato de um copo."

Fonte:
http://web.1asphost.com/zambezia/zambezia/receitas.asp


Cumprimentos a todos.
Geraldo dos Santos

Ó dr. Gorane!

Monsieur Félix Gorane

Mon cher ami, você sabe melhor do que eu o que dizia o bom do Mao Tse Tung: que se o calor é indispensável para que o ovo se transforme em pinto, nenhuma pedra se transformará em pinto por mais calor que faça aí.
Sacrebleu!
Portanto, Monsieur, para que alguma coisa exterior possa surtir efeito é vraiment indispensável que ela seja atraída por uma coisa interior propícia, por disons um atelier magnético.
Por outras palavras, ó dr.Gorane, o calor só funciona se houver um pinto, uma Genselix (deixe-me usar o nome da sua empresa de advogados) só funciona se houver um Gorane, uma prostituta só funciona se um homem lhe pagar, Deus só funciona se existir angústia, o pouvoir só funciona se alguém quer mandar nos outros.
Merde, Monsieur, como é que eu posso ser o seu fenótipo se você não for o meu genótipo, o meu laboratório cromossómico?
Você é o pão, eu sou a levedura: voilà a relação Norte/Sul com a bênção do trigo da CEE e as nossas ajudas ao vosso orçamento. Onde arranjou você a sua luxuosa vivenda do Macúti se não nos genes de tudo isso, ns mordomias do Chiveve?
Molestado por uma gâchis cuja brida não está nas suas mãos, Monsieur Gorane, você executa uma autêntica fuite romântica para o passado, recheia-o de pureza ilusória, amanha o bon sauvage, anicha-se nessa placenta compensatória e trata de encontrar a escoquerie cá por estas bandas, enquanto gerenteriza os negócios import/export da sua Genselix Lta.
Sempre vos dissemos que o vosso digno papel na história era o de exportar matérias-primas com o nosso capital e os vossos braços. Ao mesnos fomos honestos.
Sempre vos dissemos que vocês só podiam ser copra e nós, óleos, estearina.
Quiseram ignorar isso e eis o resultado do vosso orgulho gauchiste.
Por isso, agora, inventaram a auto-estima, que cada um de vós aí repete até à saciedade, por tudo e por nada.
À très bientôt, Monsieur Gorane.
Amitiés.

Joseph Poisson

Vocês, destruidores cruéis

Senhor Joseph Poisson


E mais, Senhor Poisson: a sua questão sobre partidos políticos leva água na boca, já sei que o Senhor vai dizer que não temos democracia, blá, blá, blá.
Temos imensas dificuldades devido aos vossos FMIs, aos vossos BMs.
Temos imenso desemprego devido a vós, sabia?
É do seu conhecimento que as nossas línguas originais não tinham a palavra desemprego?
De onde vem o nosso desemprego hoje? Das vossas necessidades industriais, da vossa filosofia de vida, cruel e destrutiva, cheia de recalques (por que há tanto psiquiatra e tanta magia na sua gaulesa terra?).
Puseram-nos a trabalhar para servir os vossos interesses, o vosso egoísmo, sabe?
Trabalhámos para que vocês em Marselha, por exemplo, recebessem a nossa copra e fabricassem o vosso sabão, enquanto os Portugueses nos surravam e vocês nos vestiam com panos baratos e missanga para preto.
E ao fazerem tudo isso (e continuam a fazer isso tudo), injectaram no nosso sangue a vossa cavilosa maneira de ser, habituaram-nos aos vossos vícios, ao vosso egoísmo e aos vossos traumas.
Foram vocês que fabricaram a nossa subnutrição.
E foram vocês quem produziu os nossos chamados “agentes modernizadores”, aí, nas vossas escolas, nas vossas universidades, pessoas com pressa para mudar tudo o mais rapidamente possível, esquecidos da nossa maneira de ser tradicional.
Um verdadeiro casamento entre essa febre europeia (típica de um recalcamento sexual), o fanatismo religioso dos vossos cruzados modernos e a vossa inveja racista fizeram e fazem da minha terra o que ela é hoje: um caixa de correio para os vossos empréstimos e os vossos donativos.
Vocês, que nem sequer nos deixam ser capitalista sofríveis, com os vossos programas de reajustamento estrutural (dos vossos interesses), que nos esmagam com exigências gravosas, os impostos, as menoridades accionistas nas joint ventures, os produtos piratas dos países vizinhos, etc.
Os meus cumprimentos.

Félix Gorane

02 junho 2006

Brincadeira de mau gosto

Estimada Sónia
Desculpe a brincadeira de muito mau gosto a que consistiu em colocar na caixa de apresentação do blog a palavra “feminista” para a definir. Não sei quem o fez, bem sabe que qualquer um de nós pode aceder às configurações e mudar o que quer que seja.
Tomei a liberdade de retirar a palavra.
Perdoe e fique bem.
Seu,

Geraldo

Sobre os dois tipos de galinhas

Félix

As galinhas de aviário são tenras, naturalmente, mas as galinhas Mutola são rijas como a nossa campeã olímpica, a Lurdes Mutola, têm bem melhor sabor.
A si a escolha.
Conto consigo para o almoço de amanhã: galinha à zambeziana e mucapata.
Abraço forte.

Geraldo

Qual a diferença?

Sr. Geraldo

Desculpe, mas qual a diferença entre os dois tipos de galinhas?

Félix Gorane

Sobre as galinhas

Félix

Fico muito feliz por saber que aqui vem.
Sem dúvida que terá as galinhas. Mas tenho dois tipos: as galinhas de estufa e as galinhas Mutola. É uma questão de o Félix escolher.
Até amanhã e boa viagem!
Que os psikuembu o protejam.

Geraldo

Galinhas

Caro Senhor Geraldo

Chego amanhã aí e gostaria de saber se posso levar umas tantas das suas galinhas, devo ser franco e dizer que estou cansado dos frangos congelados brasileiros e sul-africanos.
De preferências vivas, eu levarei uma boa cangarra.
Até amanhã, então.
Saudações.

Félix Gorane

Poissonismo

Monsieur Poisson

Sim, estou zangada e tenho perfeitamente razão. A sua insolência tarzanesca, construída com sofismas agressivos, é disso um exemplo.
Dado que cada um de nós tem acesso imediato à configuração do blog, creio que foi o senhor quem colocou na janela de apresentação a palavra feminista.
Cumprimentos.

Sónia Ribeiro

Readquirir a nossa alma banta

Caro Senhor Poisson

Estou satisfeito por regressarmos a este debate.
O senhor me pergunta sobre como estamos do ponto de vista político.
Ao fim destes anos todos desde o Acordo Geral de Paz de 1992, é indiscutível que fomos capazes, uns mais outros menos, de encontrar uma maneira de gerir as nossas contradições sem ser pelas armas. O funcionamento da nossa Assembleia da República é, a esse respeito, exemplar, sejam quais forem os defeitos que nela quisermos encontrar.
Porém, o grande calcanhar de Aquiles reside no figurino das nossas eleições, por vós, Ocidentais, imposto. Gastamos milhões de dólares que vocês nos emprestam para se contentarem com este teatro quinquenal de elegermos uns para deixarmos outros de fora. Será isso, realmente, democracia?
Sabe, caro senhor, a nossa África já foi harmónica antes de vocês chegarem, já tivemos a nossa democracia consuetudinária, já possuímos as nossas tribos sem termos tribalismo, já pudemos amanhar os nossos campos sem termos de fazer face às minas que vocês fabricaram e para nós exportaram.
O problema político central do nosso país, Sr. Poisson, como, afinal, de toda a África, consiste em encontrar a fórmula de uma democracia genuinamente africana que dispense as vossas imposições e os vossos inumeráveis observadores, uma fórmula que não deixe de fora nenhum partido, nenhuma sensibilidade política, uma fórmula que tenha o suporte dos nossos chefes tradicionais.
Temos de readquirir a nossa raiz, a nossa alma banta tantas vezes por vós violada.
E por hoje é tudo.
Os meus cumprimentos.

Félix Gorane

01 junho 2006

Pequenas coisas e perguntas

Dieu! Mas madame, você está mesmo zangada? Custa alguma coisa disons passar de feminina a feminista? Num caso está como os homens inventam as madames: na posição horizontal; no outro, na posição em que a madame os inventa, você agora os domina. Vraiment!
E você, ó Gorane, como está você a chivevar aí, na sua Beira? E os políticos, como estão eles?
Você, ó Geraldo, mon vieux, como oscila entre a história e as galinhas? Sacrebleu, cuidado com a gripe das aves!
Et toi, meu Carlos...Durkheim das savanas, como andas?
Amitiés.

Joseph Poisson

Pergunta

Só mais uma coisa: para quê chamarem-me feminista (repare na caixa de apresentação) ???
Cumprimentos.

Sónia Ribeiro

Masculinidades de inércia

Caro Geraldo
Caros Colegas

Com alguma dificuldade devido aos habituais problemas aqui em Tete de acesso à net, lá acabei finalmente por entrar.
Acontece que fiquei com a sensação nítida de que apesar de a minha caricatura ainda não estar pronta o Geraldo de alguma forma me tornou realmente mulher, quer dizer, pôs-me de lado.
Considero isso um claro exercício de machismo. Por que razão o número de linhas que me dedicou é inferior ao dedicado aos outros colegas? Feia atitude!
Espero que a secção não fique apenas preenchida com as vossas masculinidades e os vossos músculos .
Fungula masso iué, diz-me na minha terra. Por outras palavras, abram os olhos!
Um abraço do tamanho do Zambeze.

Sónia Ribeiro

Introdução histórica

A ideia surgiu no princípio dos anos 90, com o Carlos Serra. Ele, eu, o Poisson e o Gorane aparecemos pela primeira vez no semanário “Domingo”, com o título “Os clássicos do maquiavelismo-lenientismo”, um título bem bizarro, diga-se de passagem. Aí estivemos algum tempo, até que, por razões que nenhum de nós conhece, fomos gentilmente convidados a não prosseguir.
No fim dos anos 90, em 1997 exactamente, ressurgimos no semanário “Savana”, mas sem o Carlos Serra, que se zangou e me entregou a coordenação do debate. A secção chamava-se, então, “Os clássicos do savanismo”. Acontece, porém, que tive problemas sérios na minha coluna e a secção parou alguns meses depois, até porque o Poisson teve de fazer um longo estágio pós-doutoral nos Estados Unidos.
Como nos conhecemos, entre nós? Eu sou amigo do Carlos há muitos anos. Ele é amigo do Poisson, que conheceu em Paris. Depois, um dia o Gorane veio a Maputo e devido a um problema judicial que eu tinha, encontrámo-nos por sugestão de um amigo meu, ele tratou do meu caso (é advogado), comeu lá em casa um dia, adorou as minhas galinhas (tenho um belo galinheiro que cuido pessoalmente) e eu convidei-o a entrar no debate, convite que ele aceitou prontamente.
Estamos, agora, portanto, num terceiro ciclo. Tudo começou com um pedido do Poisson que me chegou há dias, um pedido para recomeçarmos. Recontactei os colegas e eis-nos, então, aqui. Agora de forma virtual. Mas estamos.
Falta apenas entrar a Sónia Ribeiro, que recentemente conheci graças ao Gorane.
Quero acreditar que o debate que aqui vai ter lugar sobre os mais variados temas vos vai interessar.
Toda a correspondênmcia dos meus colegas será por mim gerida e colocada, naturalmente com a anuência deles. E todos os comentários serão bem-vindos.
Bem, agora só falta começarmos o debate.
Aguarde, ele virá breve.
Os meus cumprimentos.

Geraldo dos Santos

Geraldo dos Santos


Achei sensato que cada um de nós aqui tivesse a sua caricatura, como estais a ver. Falta apenas a da Sónia, aguardai alguns dias.
Entretanto, permitam dizer-vos que chegará a altura em que situarei o contexto deste debate, em que farei um pouco a história dos seus primórdios. Sabem, a ligação entre nós já tem muitos anos e quis o destino que, agora, nos reencontrássemos, vejam lá.
Bem, terei a tarefa de coordenar tudo isto, o que nem sempre será fácil, especialmente quando estivermos confrontados com o debate, muitas vezes algo ácido, entre o Poisson e o Gorane.
Sejam bem-vindos a este local.
Ao vosso inteiro dispor,
Geraldo dos Santos
(coordenador do blog)

Carlos Serra


Olá, já me conhecem, reprazer total. Aqui estarei se e quando puder.
Carlos Serra

Félix Gorane


A todos o meu abraço e o meu grande prazer em estar convosco, a partir da terra do Chiveve.
Félix Gorane

Joseph Poisson


Mon dieu, bonjour à tous, estou mesmo muito feliz, vraiment feliz por estar convosco! Très kanimambo!
Joseph Poisson