28 junho 2006

Sobre nós, Africanos

Sr. Joseph Poisson

Sabe, entendo por concepção africana da vida um conjunto de princípios, de crenças e de práticas que nos orientam secularmente na vida, uma certa e específica maneira de encarar a vida, muito nossa.
Por exemplo, nós nunca concebemos a morte enquanto tal, para nós os nossos mortos continuam vivos sob forma de espíritos, que louvamos continuada e carinhosamente.
Como sabe, as mentalidades variam: a nossa não é a vossa e a vossa não é a asiática.
Sobre o direito, agora.
Como bem sabe, em África devemos saber distinguir entre o direito costumeiro estrito (conjunto de regras de conduta obrigatória) e o costume (conjunto de princípios gerais cuja infracção não é sancionada).
Muitas vezes ambas as coisas aparecem imbricadas uma na outra. E isso muitas vezes devido ao efeito deletério do colonialismo e da actual e permanente intrusão europeia.
De qualquer das formas, é importante ter em conta que o direito costumeiro negro tem, por um lado, uma componente universal idêntica ao direito branco (a mesma busca de regras, de preceitos, de sanções, etc.) e, por outro, naturalmente, uma especificidade, atinente à nossa maneira peculiar de estarmos na vida, de a encararmos.
Somos ainda muito sociáveis, a nossa vida é pautada pela busca permanente de diálogo, de equilíbrio, de harmonia, de entrosamento familiar e de grupo. Não é por acaso que a resolução costumeira de conflitos leva horas e horas, sem formalismo, com as partes intervenientes discutindo o problema ou os problemas em causa até se chegar a uma conclusão satisfatória. Nós não temos a vossa pressa de europeus nem resolvemos os nossos problemas da forma disjuntiva como vós resolveis ou tentais resolver os vossos. Por isso o direito formal, de vós herdado, provoca tantos problemas entre nós!
Por agora fico por aqui.
Os meus respeitosos cumprimentos.

Félix Gorane

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Peço desculpa, mas com todo o respeito, tenho q lhe dizer o seguinte: a sua abordagem é um bastante "xenófobica", a partir do momento que parte do principio que as pessoas africanas agem todas como as pessoas Moçambicanas. Para tal dou o exemplo do povo Sul Africano, em que é reconhecida a sua forma mais dinâmica de trabalhar (!), mais séria de ser, senhores de uma cultura e um agir bastante diferente dos Moçambicanos. Dai a potencia que são.

È tempo de por a mão na consciência e de não culpabilizar os Europeus das nossas fraquezas. Caro Sr, já se passaram 30 anos!

Se há coisa que aprendi, é que devemos ás vezes parar e não ter medo de evoluir, de admitir formas de ser preguiçosas que não trazem riqueza a nenhum pais, de continuarmos a ter muita dificuldade em respeitar o próximo, em actos pouco ao nada cívicos de roubar o povo descaradamente, é importante não cairmos no erro de nos tornar-mos escravos da nossa cultura, de sermos engolidos por um mercado aberto cada vez mais agressivo… sim porque sou do principio que até a nossa cultura pode evoluir, e se estivermos um dia subjugados por outra cultura, em vez de a reprimir por magoas passadas, podemos olhar para ela e saber o que tirar dela, aprender com os erros e melhorar.

Quando fala no direito costumeiro negro, como mulher que sou, posso-lhe dizer que muito há a mudar, que estou cansada de ver as mulheres em segundo e terceiro plano nesta sociedade, isto a muitos níveis, como deve saber muitas injustiças sexistas se fazem ainda, posso focar rapidamente a herança das terras, o lobolo, o facto do homem Moçambicano se recusar a usar Preservativo depois de fazer sexo com varias mulheres…. E muitas mais leis, que me desculpe estão completamente obsoletas, vem de outros tempos e é tempo de mudar.

È urgente que a juventude comece a ter acesso a boas escolas, a boa educação, a boa informação, a ler, a conhecer outras culturas, comece a ter mais respeito pela sua terra e pelo seu povo.

Convenhamos, é tempo de evoluir, se não em vez de nos queixar-mos dos Europeus, daqui a 30 anos estamos escravos dos chineses ou dos americanos! Ou essas culturas já não o assustam?

sexta-feira, outubro 27, 2006 5:30:00 da tarde  

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