02 junho 2006

Readquirir a nossa alma banta

Caro Senhor Poisson

Estou satisfeito por regressarmos a este debate.
O senhor me pergunta sobre como estamos do ponto de vista político.
Ao fim destes anos todos desde o Acordo Geral de Paz de 1992, é indiscutível que fomos capazes, uns mais outros menos, de encontrar uma maneira de gerir as nossas contradições sem ser pelas armas. O funcionamento da nossa Assembleia da República é, a esse respeito, exemplar, sejam quais forem os defeitos que nela quisermos encontrar.
Porém, o grande calcanhar de Aquiles reside no figurino das nossas eleições, por vós, Ocidentais, imposto. Gastamos milhões de dólares que vocês nos emprestam para se contentarem com este teatro quinquenal de elegermos uns para deixarmos outros de fora. Será isso, realmente, democracia?
Sabe, caro senhor, a nossa África já foi harmónica antes de vocês chegarem, já tivemos a nossa democracia consuetudinária, já possuímos as nossas tribos sem termos tribalismo, já pudemos amanhar os nossos campos sem termos de fazer face às minas que vocês fabricaram e para nós exportaram.
O problema político central do nosso país, Sr. Poisson, como, afinal, de toda a África, consiste em encontrar a fórmula de uma democracia genuinamente africana que dispense as vossas imposições e os vossos inumeráveis observadores, uma fórmula que não deixe de fora nenhum partido, nenhuma sensibilidade política, uma fórmula que tenha o suporte dos nossos chefes tradicionais.
Temos de readquirir a nossa raiz, a nossa alma banta tantas vezes por vós violada.
E por hoje é tudo.
Os meus cumprimentos.

Félix Gorane

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

O que é uma alma banta? Não foi um alemão, o Bleek, quem no século XIX inventou o termo “bantu”?

Um banto

sexta-feira, junho 09, 2006 11:03:00 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home