09 janeiro 2008

O que eu proponho para discussão

Olá a todos, um bom dia dia cheio de optimismo!

Devo ser franca e dizer que pouco sei do passado.

Mas mesmo que saiba pouco, algo me diz que se já é difícil ter uma ideia do passado pelas coisas que ficam escritas, muito mais difícil é termos essa ideia pelas coisas que foram ditas e observadas e que ficaram somente na memória das pessoas. Digo isto porque nós moçambicanos não tínhamos uma escrita.

Portanto, julgo que é muito difícil dizer que o nosso passado há 300 anos ou mais foi lindo ou foi feio, que teve equilíbrio ou desequilíbrio. Parece-me ser mais sensato dizer que a vida nos tempos era como a vida de sempre: com alegrias e tristezas, mas certamente com muitas mais dificuldades. Muitos de nós hoje vivemos em casa de cimento, temos chuveiro, sanitários, lemos, vamos à escola, etc. Há 300 anos vivíamos como?

Para mim, que nada percebo de política, o mais importante é ficarmos neste presente e sabermos como é que podemos ter uma vida mais eqauilibrada, mais democrática.

Por exemplo, o que é necessário fazer para que possa haver uma vida mais feliz para aqueles que vivem com dificuldades? O que é necessário fazer para que o país não se resuma a um só partido? O que é necessário fazer para que as pessoas apreendam a não acreditar logo à partida nos políticos? O que é necessário fazer para que a polícia, os tribunais, a procuradoria da República funcionem rápido e de forma independente? O que é necessário fazer para que os professors tenham melhores salários e os alunos escolas verdadeiras e não salas vazias? O que é que nós que estamos cá em baixo precisamos fazer para obrigar a quem está em cima a pensar em nós?

São coisas assim simples que eu proponho para a discussão.

Um beijinho grande para todos.

Sónia Ribeiro

07 janeiro 2008

Effet placébo

Chers Amis
Quero pedir votre perdão por ter demorado uma montanha de temps para intervir ici, mas nem sempre a minha farmácia me deixa tempo de loisir. Tenho lido atentamente os vossos travaux et afinal eu aqui vou seulement recuperar algumas idées velhas que já tive occasion de mostrar anteriormente.
Primeiro problema de vossas teses é falar de uma África idealizada, que vocês, Koluki e Félix, colocam nas bocas daqueles também idealizados que vocês julgam ter sido os antepassados guardiões de histórias, mythes et legendes. Esse effet placébo funciona sempre bien quand as choses vão mal et afinal dão bem com aquela auto-estime que por esses lados abunda nos discursos politiques. Senhores como Joseph Ki-Zerbo et Cheikh Anta Diop têm sido bons sedativos com ses teorias de harmonia africana pour aqueles políticos corruptos das elites du continent.
Segundo problème est que a fiction de um passado belo e sem rachas sempre permite aos políticos corruptos tentar passer a imagem de uma África hoje unie. Quanto mais eles exploram et roubam, mais falam de unidade nacional et vão ao passado buscar a remessa das velhas receitas idylliques para atribuir ao colonizador antigo e moderno as mazelas du continent.
Faz falta um jour meter na caixa de farramentas dos cientistas sociaux a farmacocinética e aí estudar os efeitos politiquement benéficos, não maléficos, da "droga passado" nos organismos politiques.
África precisa non das vossas histórias edificantes mais de réalisme et de honestidade com participação du peuple. Et este peuple está cada vez mais acordado contra a corruption.
Et c´est tout pour le momento.
Amicalement à vous.

Joseph Poisson

06 janeiro 2008

Estragar a nossa africanidade

Irmãos
Aqui me têm novamente para participar convosco neste fórum.
Estou inteiramente de acordo com a autora angolana Koluki.
Efectivamente, o passado das sociedades africanas está repleto de uma organização harmoniosa, na qual a democracia colegial, participativa e transversal era uma constante.
Ninguém melhor do que o nosso insigne e infelizmente já falecido historiador Joseph Ki-Zerbo mostrou como nós éramos e vivíamos. Muito do que fomos foi produto de opções africanas genuínas e uma dessas opções, sem dúvida gradiosa, foi as das relações inter-pessoais contra o maquinismo típico e doentio dos europeus.
O problema, porém, começou com a colonização em todas as suas bárbaras manifestações, desde a desorganizações das nossas redes democráticas inter-pessoais até à odiosa escravatura.
Quando as independências começaram a chegar, os nossos primeiros dirigentes, vividos e formados na Europa, eram portadores do gérmen dos valores que aprenderam. Quiseram montar a casa da Europa aqui, na nossa casa, nos nossos costumes, nas nossas regras. Nem mesmo tentando o disfarce da negritude conseguiram ser mais do que foram: marionetas do Ocidente. Os ditos vanguardistas, os Nkrumahs, os Cabrais, os Netos, os Samoras, etc., todo eles quiseram introduzir práticas e maneiras de pensar completamente estrangeiras aos nossos costumes e à nossa cultura. Leiam, por exemplo, o "Conscientismo" de Nkrumah. O que é isso senão a desastrada tentativa de pensar o nosso continente e de lhe quer impor o materialismo dialéctico dos comunistas?
Depois, a Europa impôs-nos o multipartidarismo. E com o multipartidarismo começaram outros problemas, muito sérios problemas.
Um desses problemas é a aplicação mecânica do modelo urbano-ocidental nas nossas sociedades, transformando em voto-homem o que era, antigamente, a voz-sociedade, a voz clânica, a voz camponesa.
Um outro grande problema é o enorme gasto de dinheiro que se faz para montar os recenseamentos e depois o processo eleitoral, quando os nossos camponeses sofrem e apenas querem água, energia, lojas, barragens, etc. E periodicamente temos o país cheio de políticos a gritar promessas, a gastar dinheiro em propaganda e coisas assim sem fim.
Isso não é democracia: isso é o corpo da Europa cansada sentado em cima da nossa alma africana. Isso é estragar a nossa africanidade, ofendê-la.
Permito-me ficar por aqui hoje.
E mais não disse.
Os meus cumprimentos.

Félix Gorane

05 janeiro 2008

A liberdade não existe em si

Meus Amigos
Aqui estou de novo para tentar deixar mais algumas ideias.
Sim, a Sónia tem razão. Importa tentarmos clarificar certas coisas.
Em primeiro lugar, deixem-me dizer-vos que a liberdade não existe. Melhor: não existe em si. O que existem são certos graus de liberdade (eventualmente crescendo) e estes graus de liberdade não são dons nem de deuses nem de tiranos, são ganhos em luta, quantas vezes dolorosa e mortífera.
Acho que foi Manès Sperber quem um dia escreveu que a liberdade não é natural, que a liberdade se ganha contra a natureza e contra o corpo. Veja-se o percurso de uma criança sempre condicionada, sempre tentando libertar-se. Lembremo-nos da fome, da sede, etc.
Mas a liberdade não se ganha apenas contra a natureza e contra o corpo. Ganha-se também contra outros seres humanos, especialmente contra os tiranos.
Então, a democracia é uma coisa complexa, com muitos níveis, com muitos atalhos e que hoje, infelizmente, parece reduzir-se à periódica rotação das elites em tempo de eleições (e sobre estas muito haverá a dizer).
A democracia é bem mais do que o acto de dizer não, de afirmar os meus direitos, de impedir que me recusem a humanidade e a individualidade.
A democracia é, especialmente, a capacidade de cada um de nós se libertar da infinidade de tiranos que nos habitam desde pequenos, divinos e profanos. Porque, meus Amigos, somos afinal nós quem fabrica tiranos, é o nosso medo que os segrega, a nossa necessidade de protecção que os reactualiza.
Deixem-me ficar por agora aqui.
Respeitosos cumprimentos.

Geraldo dos Santos

04 janeiro 2008

O que é democracia?

Olá a todos!
Olhem, eu faço aqui por agora apenas uma pequena intromissão.
Sou por natureza adversa a coisas muitas generalizadas, eventualmente porque sou professora de biologia e aqui ou somos precisos ou afundamo-nos.
Quer o Geraldo quer o Félix embarcaram logo num barco cujo destino julgam conhecer mas que, se conhecem, não nos dizem qual é.
Digam-me lá uma coisa: o que é democracia?
Depois, digam lá: o que é "democracia europeia" e o que é "democracia africana"? Estou certa de que o Geraldo e o Félix navegam nesses barcos de forma directa ou subentendida.
Um grande beijinho daqui do Zambeze.

Sónia Ribeiro

03 janeiro 2008

Sobre a democracia africana

Irmãos
Li atentamente o texto do Sr. Geraldo e devo confessar que concordo no geral com ele.
Porém, ele peca por um erro clássico neste tipo de análises, que é o de considerar as ditas "realezas" como algo monolítico, como algo igual em toda a parte, como algo errado afinal.
Por outras palavras: o problema capital do texto do Sr. Geraldo consiste em ter evitado dizer que nós, Africanos, tínhamos e temos uma concepção e uma prática de democracia, variada é certo ao longo dos séculos, mas tínhamos e temos.
O nosso problema, o problema dos Africanos, foi sempre duplo: primeiro termos aprendido a gostar da colonização em geral, ficou-nos sempre o gosto de macacos de imitação; segundo, termos aprendido, como uma das consequências, a desprezar as nossas próprias tradições, a nossa própria maneira de ser. Temos vergonha e, até, medo, em dizer não aos europeus e em impormos as nossas formas de fazer democracia.
Irmãos: os regulados, as chefias que dizemos tradicionais, são, hoje, uma degeneração lastimável, produto da colonização. Reparem como os Estados usam e abusam dessas caricaturas da democracia.
As nossas tradições orais contam-nos que, nos tempos, todos nós tínhamos uma palavra a dizer nos nossos concílios africanos, os nossos chefes antigos não eram nem imperadores nem chefes no sentido europeu, não eram jamais Napoleões nem Luíses XIV, mas gestores da res publica. Homens, mulheres, crianças, todos participavam nessa res publica, todos tinham uma contribuição a dar, a partilhar, a levar avante.
O colonialismo primeiro, o imperialismo de hoje a seguir, fizeram primeiro degenerar as nossas instituições costumeiras e, depois, impuseram-nos regras "democráticas" completamente estrangeiras à maneira africana de gerir o nosso destino.
Irmãos: diz um nosso provérbio do Rwanda, que a água quente jamais esquece que já foi fria.
Se não sabemos para onde vamos, saibamos ao menos de onde viemos.
Por agora faço como Sr. Geraldo: deixo ficar aqui algumas ideias gerais.
Os meus cumprimentos.

Félix Gorane
(Sr. Carlos: escrevi o texto rapidamente e não tive tempo de o rever. Corrija por favor os erros que houver. Muito agradecido.)

02 janeiro 2008

Começo eu sobre a democracia

Meus Amigos
Permitam-me que seja eu a começar com algumas ideias simples e muito gerais para gerar o debate.
Onde é que, regra geral, sob o impulso hegemónico dos produtores do modelo de democracia que estamos a tentar fazer funcionar no nosso país, vamos buscar a origem da democracia? Vamos buscar a origem, mas também a definição de democracia, à Grécia, a séculos de distância. É na ágora que colhemos as sementes do padrão de democracia.
Mas ao fazê-lo, caímos logo num equívoco desagradável. É que, de facto, a democracia grega em geral, ateniente em particular, era uma demcracia de cidadãos livres. Essa democracia de cidadãos livres, da polis, excluía os escravos, que muitos eram, escravos que não eram considerados seres humanos.
Depois é possível encontrar diferentes étapas históricas para obter o modelo eleitoral que, rotativamente, faz circular as elites e rompe com o destino unívoco das realezas sagradas um pouco por todo o mundo.
Todavia, a democracia tal como a concebemos hoje, é, em grande medida, produto das lutas dos trabalhadores na Europa do século XIX. Nunca foi uma concessão das aristocracias ou das burguesias esclarecidas, mas o produto de uma luta, tal como foi produto de uma luta o modelo de Estado assistencial, hoje em derrapagem.
Finalmente, tenho para mim que corremos cada vez mais o risco de fazermos dos pleitos eleitorais a razão quase exclusiva da existência da democracia. E corremos de facto o risco de a democracia ser, ao cabo e ao resto, o exercício completo da plutocracia.
Permitam-me, amigos e leitores, ficar hoje por aqui.
Respeitosos cumprimentos.

Geraldo dos Santos

01 janeiro 2008

Nenhuma alma pode ser algemada

Boa noite a todos!
Grande prazer em regressar ao vosso convívio.
Sim, no que à minha pessoa diz respeito, de acordo com o tema.
Mas gostaria desde já de chamar a atenção para o Sr. Poisson, que não o direito de começar logo com uma restrição, pouco saudável e entorpecedora. Nenhuma alma pode ser algemada.
Os meus melhores cumprimentos.

Geraldo dos Santos

Democracia dos régulos...

Bonjour a todos, mes caros amis!
Ah oui, un très beau tema desde que M. Gorane non comece logo a falar da democracia dos régulos.
Alors vamos lá.
Amitiés à tous.
P.S.- Feliz nouvelle année!

Joseph Poisson

De acordo

Boa tarde a todos, também estou por aqui hoje.
Em primeiro lugar, Boas Festas e Feliz Ano Novo para todos!
Em segundo lugar, estou inteiramente de acordo com o tema - pois é, a democracia, a dita democracia europeia! -, creio que todos estamos de acordo. Proponho que comecemos a discuti-lo amanhã...Penso que estamos todos ainda um pouco "cheios" das festas...
Respeitosos cumprimentos.

Félix Gorane

Proposta de tema de debate: democracia

Minha gente...No meu diário, alguém ontem escreveu um longo comentário (vejam o antepenúltimo aqui) sobre os dissabores da democracia. Creio que poderíamos fazer da democracia a rampa de lançamento do nosso debate este ano, sejam quais forem os níveis que nela quiserem considerar.
O que acham?
Aguardo as vossas respostas.
Abraço 2008.

Carlos Serra

Estou aqui!!!

Estou aqui!!!!! Boas Festas meu queridos todos!!!!!!!
Tinha justamente acabado de entrar tb nos settigns do blogue e vi seu chamado, Carlos...
Vamos lá falar, beijos "gandes" daqui do Zambeze!!!

Sónia Ribeiro

Gentes!

Gentes, estais por acaso aí, seus preguiçosos e sem-vergonha e sem respeito pelos leitores? Bom 2008! Favor responderem, seus seres sem piedade!

Carlos Serra