05 janeiro 2008

A liberdade não existe em si

Meus Amigos
Aqui estou de novo para tentar deixar mais algumas ideias.
Sim, a Sónia tem razão. Importa tentarmos clarificar certas coisas.
Em primeiro lugar, deixem-me dizer-vos que a liberdade não existe. Melhor: não existe em si. O que existem são certos graus de liberdade (eventualmente crescendo) e estes graus de liberdade não são dons nem de deuses nem de tiranos, são ganhos em luta, quantas vezes dolorosa e mortífera.
Acho que foi Manès Sperber quem um dia escreveu que a liberdade não é natural, que a liberdade se ganha contra a natureza e contra o corpo. Veja-se o percurso de uma criança sempre condicionada, sempre tentando libertar-se. Lembremo-nos da fome, da sede, etc.
Mas a liberdade não se ganha apenas contra a natureza e contra o corpo. Ganha-se também contra outros seres humanos, especialmente contra os tiranos.
Então, a democracia é uma coisa complexa, com muitos níveis, com muitos atalhos e que hoje, infelizmente, parece reduzir-se à periódica rotação das elites em tempo de eleições (e sobre estas muito haverá a dizer).
A democracia é bem mais do que o acto de dizer não, de afirmar os meus direitos, de impedir que me recusem a humanidade e a individualidade.
A democracia é, especialmente, a capacidade de cada um de nós se libertar da infinidade de tiranos que nos habitam desde pequenos, divinos e profanos. Porque, meus Amigos, somos afinal nós quem fabrica tiranos, é o nosso medo que os segrega, a nossa necessidade de protecção que os reactualiza.
Deixem-me ficar por agora aqui.
Respeitosos cumprimentos.

Geraldo dos Santos