05 dezembro 2006

Ah oui, M. Gorane, sou ateu graças a deus!


Mon cher Félix Gorane

Ah oui, je suis vraiment ateu graças a deus, sabe? Já sei como você e outros fazem: colocar a montante dos humanos um extra-humano chamado deus, uma substância supostamente auto-criada. Sacrebleu! Mas eu lhe direi: parta do princípio sensato de que foram e são seres humanos quem criou e cria outros seres humanos. Você dirá, cependant: admito o seu pensamento circular, mas em troca o Sr. Poisson tem de admitir que a circularidade precisa de um motor, de algo que lhe dá origem, de um combustível original, de uma faúlha. Esta origem está em deus, dir-me-á. E eu respondo-lhe que a sua observação é imediatamente abstracta. É uma chose absurda para a qual não tenho resposta. Sabe, M. Gorane, quando o senhor se coloca a origem do homem e da natureza, o senhor mais nada faz senão abstrair do homem e da natureza. O senhor dá-os como não existentes e depois quer, à viva força, que eu os torne existentes? Sacrebleu! Faça o seguinte: desista da sua questão e de imediato abandonará a sua tola abstracção. Je vous prie: não faça da sua abstracção um manifesto da inexistência do homem, monsieur! Ou quer você ser tão egoísta que, concebendo tudo como não-existente, deseja viver sozinho...na sua não-existência? Vá lá, monsieur, tente evacuar essa ideia da criação extrínseca aos seres humanos! E eu nem quero falar agora sobre esses sub-deuses que são os espíritos que certamente levaram o amigo Geraldo (que cabotino, ce monsieur-là!) a atirar l´épouse para a carroça do lixo.
Écoutez: sabe de quem é o conjunto de coisas que lhe acabei de escrever? Do jovem Marx!
Amitiés à tous!

Joseph Poisson